terça-feira, 13 de março de 2012

"(Ex -) sacoleiros"

O banimento das sacolas plásticas descartáveis dos supermercados paulistas provoca reações divergentes entre os consumidores e escancara a tensão entre a cultura consumista adquirida e as transformações necessárias
POR FÁBIO RODRIGUES
ARTE DORA DIAS
Em 25 de janeiro passado, uma porção de consumidores tomou um susto na hora de passar suas compras pelos caixas dos quase 16 mil supermercados paulistas. As sacolinhas plásticas [1] que – durante décadas – eram distribuídas à vontade tinham desaparecido! Pela primeira vez na vida, um sem-número de pessoas teve de pagar pelas sacolas que usaria ou se virar do jeito que dava. Foi um pandemônio.
[1] Sacolas de polietileno de alta densidade dadas pelos varejistas aos clientes. Embora os fabricantes não gostem de ressaltar esse ponto, elas são fabricadas e distribuídas sob a premissa de serem usadas uma só vez. Mas podem ser reutilizadas e seu aproveitamento para embalar o lixo doméstico tornou-se corriqueiro
O presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), João Carlos Galassi, conta que a entidade precisou de cinco anos até amadurecer a decisão de lançar a campanha “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco” – acordo com governo do estado que quer botar fim na farra das sacolinhas. Segundo ele, reduzir o impacto ambiental tornou-se uma meta estratégica para o segmento. “A questão ambiental é a pauta do século”, pontua em entrevista a Página22. Ele afirma que a sustentabilidade está deixando de ser algo conceitual para entrar no campo das ações práticas. (Leia a entrevista completa)
Muita gente não gostou da novidade. Os consumidores acharam a mudança repentina e se sentiram lesados ao ter de comprar algo que, no fim das contas, nunca foi gratuito de fato. Só que, como cada sacola custa irrisórios 3 centavos, ninguém se importava com essa conta. Como as versões reutilizáveis são bem mais caras, a impressão é de que os supermercados querem ganhar dos dois lados.
Ao escancarar o preço das sacolas para o consumidor, o banimento já tem o mérito de atacar um problema ambiental classic: o das externalidades ocultas. Explicada de forma grosseira, uma externalidade é um custo – ou benefício – que não está incluído no preço dos produtos. No caso das sacolas de plástico convencionais, os críticos dizem que seu custo só é tão baixo porque os fabricantes não precisam arcar com as despesas geradas pelo recolhimento e destinação adequados do produto. Essa parte da conta é silenciosamente transferida para o sistema público de gestão de resíduos sólidos ou, mais claramente, para o contribuinte.
Essa não é a primeira vez que o público
reage mal ao ter de sacrificar algo – ainda
que mínimo – em benefício do meio ambiente. O ativista e político Fabio Feldmann
pagou caro por seu envolvimento com a primeira versão do rodízio de automóveis implantado na região metropolitana de São Paulo em 1995.
Na sua interpretação, a impopularidade da medida pesou nas consecutivas derrotas eleitorais que sofreu desde então. Quase 17 anos depois, ele ainda é cobrado. “Em toda palestra que dou, tem sempre alguém que faz um comentário sobre o rodízio. Geralmente negativo”, diz, resignado.


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