segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"O risco dos antigos lixões"

Lixões inativos em Fortaleza ainda são áreas de risco para população que moram sobre eles. O POVO começa hoje série de matérias sobre lixões que existiram de 1956 a 1998. Eles podem esconder perigos pouco investigados.
Grandes bairros de Fortaleza, outrora, abrigaram inícios de desdém, sobre marcas de rejeição. Em cima de grandes lixões que existiram na Capital, famílias construíram vida diante da teimosia de enfrentar os riscos. Riscos que, ainda hoje, estão à espreita. Monte Castelo, Barra do Ceará, Antônio Bezerra, Henrique Jorge e Jangurussu trazem capítulos de um passado que, desde então, podem estar maturando tragédias.

O POVO foi em busca desses espaços para verificar os possíveis impactos para a população, que, ao longo dos anos, se apropriou da área, renegou os perigos, mas faz questão de contar as dificuldades. E os medos. Oficialmente, os lixões da Capital existiram de 1956 até 1998, quando o último deles, Jangurussu, foi desativado.

Rachaduras
Na comunidade do Buraco da Gia, no Antônio Bezerra, ainda é possível ver o contorno das rampas sobre as quais as casas foram erguidas. O principal lixão de Fortaleza existiu por lá nos anos 1966 e 1967. O operador de recepção, Antônio José Sampaio, 41, não era nascido, mas conta as histórias que ouvia dos familiares. “Diziam que era muito lixo, um fedor danado”. Ele nos guia a locais onde “acontecem coisas” que não entende. “Aqui, ó (aponta com ênfase para as rachaduras nas casas). De vez em quando, a gente precisa refazer umas paredes”, explica.

O que é um enigma para Antônio tem fácil explicação para o engenheiro sanitarista e ambiental Francisco Vieira Paiva. Ele diz que a instabilidade do terreno pode estar gerando as constantes rachaduras. “É um perigo iminente. As rachaduras significam que o terreno não está completamente estabilizado e se movimenta. O recalque, como chamamos, acontece porque áreas onde existiram lixões são terrenos frágeis, que demoram muitos anos para se consolidar. Pode haver afundamento das camadas do solo, com o peso das construções”, adverte.

Segundo o professor Paiva, a existência do gás metano e do líquido chorume, altamente tóxicos, resultantes da decomposição da matéria orgânica, é quase improvável na área.

Pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, lixões e descartes inadequados se configuram como crimes ambientais. Até 1998, eles existiram em Fortaleza deixando tristes heranças à saúde ambiental e sanitária da Capital. “São situações que podem desencadear grandes tragédias a qualquer momento, algumas são vistas a olho nu. Outras, o tempo tem escondido, mas pode surpreender”, alerta o supervisor do núcleo de impacto ambiental, da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), José William Henrique de Sousa.

O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O POVO inicia hoje série de matérias sobre os riscos que podem estar escondidos em lixões desativados. Perigos de explosões, pelo gás metano, de deslizamento de terra, de contaminação do lençol freático ainda são iminentes em alguns deles.

Sara Rebeca Aguiar
sararebeca@opovo.com.br

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